O Ócio Indecente

É cada vez mais evidente a indecente inversão de sentido do serviço público. É natural pensar que ele existe para atender ao cidadão e contribuinte, suprindo necessidades coletivas. Mas a ineficiência governamental, somada a outras práticas, indica claramente que, muitas vezes, ele se presta mais ao servidor do que ao próprio cidadão.
Dois exemplos em Balneário Piçarras: a creche ao lado de minha casa não funciona em feriados e oferece gozo de férias em julho e no período de festas de final de ano. As mães, geralmente no subemprego e, portanto, sem direito aos feriados, têm de se desdobrar para deixar os filhos na casa de parentes ou vizinhos. Além disso, são nas férias de final de ano que mais precisam do serviço, até porque muitas delas dilatam sua jornada de trabalho aproveitando o movimento de verão. Resumo da história, elas que se virem.
O horário de funcionamento da Prefeitura é outro caso. Sob a alegação de economia e da coincidência com o horário de atendimento do Fórum, a repartição só abre as portas no período da tarde. Bom para os servidores, excelente para o próprio prefeito, que pode dedicar a manhã aos negócios de sua constrututora. Já o cidadão deve se condicionar ao horário que, além de inconveniente, reduz em duas horas o período de atendimento. É, na verdade, menos serviço por mais dinheiro público. Afinal, os salários são os mesmos e, embora concorde com Domenico De Masi sobre a redução da jornada de trabalho e a ampliação do tempo dedicado ao ócio criativo, não acho boa idéia promover a qualidade de vida dos servidores públicos com a deterioração do serviço que custa tão caro ao bolso do contribuinte. Parece óbvio dizê-lo, mas não é pra isso que ele deve existir.

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