A urticária do poder
Nada no mundo é tão perigoso quanto uma meia-verdade. Bush disse que invadiu o Iraque também para libertar a nação árabe da tirania de Saddam, mas mascarou, mal e porcamente, o interesse eminentemente imperialista da "ocupação" ianque. Mas não precisamos ir tão longe. Quando o prefeito de Piçarras e vereadores escudeiros dizem que não houve aumento do valor do IPTU, por ocasião de recente aprovação de projeto que trata do assunto, estamos novamente diante de uma meia-verdade clássica.
Alegam eles que, na verdade, houve apenas uma correção no valor venal dos imóveis. Pressupomos, portanto, que os valores anteriores estavam distorcidos, desatualizados. O contribuinte, então, deve ficar tranqüilo, porque o que o Executivo fez foi simplesmente distorcer o que estava torcido. O governo municipal somente restabeleceu a justiça fiscal, defendeu o interesse público e se esforçou em ampliar as fontes de receita para garantir mais realizações em favor de todos.
É uma cômoda interpretação da verdade, uma vez que despreza flagrantemente o fato - simples mas absoluto - de que o contribuinte terá de desembolsar, em muitos casos, o dobro do que pagava em anos anteriores. O que lhe importa se a planta de imóveis estava ultrapassada? A verdade - inconteste - é que o valor foi majorado num índice absurdamente espoliativo. Nenhum contribuinte piçarrense certamente viu seu patrimônio ou sua renda pessoal multiplicar de tal forma no período de um ano.
Mas não bastasse a horrenda meia-verdade, a falta de diálogo com o contribuinte, com a sociedade que sustenta a máquina pública, causa idêntica irritação. Outrora, quando vigoravam versões diversas do coronelismo, a sociedade engolia o suspeitíssimo fato de que o prefeito, sozinho, deveria deliberar sobre o futuro da cidade. Hoje, prefeito que insiste na prática megalomaníaca, dá prova de interesse escuso ou de aversão à democracia. Tem urticária só em pensar que terá de dividir com o povo o poder que ele bancou quase sozinho para desfrutar. Seria mesmo algo injusto, convenhamos...
Alegam eles que, na verdade, houve apenas uma correção no valor venal dos imóveis. Pressupomos, portanto, que os valores anteriores estavam distorcidos, desatualizados. O contribuinte, então, deve ficar tranqüilo, porque o que o Executivo fez foi simplesmente distorcer o que estava torcido. O governo municipal somente restabeleceu a justiça fiscal, defendeu o interesse público e se esforçou em ampliar as fontes de receita para garantir mais realizações em favor de todos.
É uma cômoda interpretação da verdade, uma vez que despreza flagrantemente o fato - simples mas absoluto - de que o contribuinte terá de desembolsar, em muitos casos, o dobro do que pagava em anos anteriores. O que lhe importa se a planta de imóveis estava ultrapassada? A verdade - inconteste - é que o valor foi majorado num índice absurdamente espoliativo. Nenhum contribuinte piçarrense certamente viu seu patrimônio ou sua renda pessoal multiplicar de tal forma no período de um ano.
Mas não bastasse a horrenda meia-verdade, a falta de diálogo com o contribuinte, com a sociedade que sustenta a máquina pública, causa idêntica irritação. Outrora, quando vigoravam versões diversas do coronelismo, a sociedade engolia o suspeitíssimo fato de que o prefeito, sozinho, deveria deliberar sobre o futuro da cidade. Hoje, prefeito que insiste na prática megalomaníaca, dá prova de interesse escuso ou de aversão à democracia. Tem urticária só em pensar que terá de dividir com o povo o poder que ele bancou quase sozinho para desfrutar. Seria mesmo algo injusto, convenhamos...
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