Invejo Obama

Confesso. Tenho inveja de Obama. Mas não porque tornou-se o homem mais poderoso do mundo; nem porque tem uma nação, inebriada, aos seus pés, enquanto outras fazem festa e feriado após sua eleição para o comando dos Estados Quase Unidos da América. Tampouco porque ressuscitou, num país abatido pelo fracasso de duas guerras e de uma crise sem paralelo, a esperança quase mágica de voltar a ser o que era; um país de oportunidades, de prosperidade, um país onde, acreditam eles, foi destinado por Deus a ser o melhor lugar do mundo para se viver.

Não, não tenho inveja de Obama porque o mestiçado presidente norte-americano entra para a história da humanidade, e nem porque frequentará o salão que guarda, impregnados em suas paredes, alguns dos maiores segredos da humanidade. Não invejo o posto de Obama porque o mundo será o seu quintal, nem porque todos, ou quase todos os líderes mundiais, lhe beijarão a mão.

Invejo Obama porque ele tem uma missão clara à sua frente, ainda que possa não saber como cumpri-la. E mais do que isso: sabe o que a sociedade espera de seu verbo e de sua ação. Obama pode acordar, todos os dias, sabendo para onde deve canalizar todos os seus esforços; sabe que sentido devem ter suas lutas. Não há, como acontece com muitos de nós, o vacilo entre permanecer no modorrento emprego ou arriscar-se a um novo feito; entre apreciar o prosaico da vida ou lançar-se às incertas possibilidades do novo. 

Invejo Obama porque o destino lhe amarrou, consentidamente, a uma tarefa.  E  não me digam que isso é resultado apenas de sua poderosa vontade pessoal. Quantos não desejam estar em seu lugar? Por que, senão pela misterioso desdobrar das leis de Deus, Obama foi o escolhido de uma nação que há menos de meio século mantinha bebedouros exclusivos para os brancos? Obviamente, sua vontade o conduziu até o Salão Oval. Mas outra vontade maior  teve de assentir. 

Invejo Obama, enfim, porque sua vontade casou com a vontade de Deus. E um homem cuja vida é feita de caminhos desviados, de passos hesitantes,  é um homem perdido de seu darma, de sua virtude. Desencontrados, ele e sua potência superior, o homem perambula na vida, entre a insatisfação recorrente e a distração que as coisas momentaneamente lhe causam à mente. 

A grande questão que se inquieta em mim é se, afinal,  devo esperar da vida sinais reveladores de uma missão, ou se é a missão que aguarda pacientemente meu despertar da sonolenta e viciante comodidade dos dias iguais. 

Comentários

Postagens mais visitadas