Mar adentro




Dizem que do mar surgi
Na minha ex-vida de célula só
Dizem que o mar foi berço, foi seio,
Que meu corpo foi um sonho de Deus nas profundezas de Poseidon.

O que sei, e só disso sei,
É que a alma faz do mar caminho inverso
Porque é para o oceano que ela traça o rumo.

Brotada das sangrias da terra
Despejada nos fios d´água
Que descem a montanha numa ânsia insana
Perde-se, agita-se e cansa-se no fluxo dessas turbulentas águas.

A alma fareja o cheiro de mar
como se sempre da felicidade soubesse seu exalar
E um dia, depois de tanto resistir à força da vida,
Rende-se a alma, enfim, à maciez do rio.

E por ter sempre conhecido a estreiteza das margens, o limite do possível
Soube, ao mergulhar na infinitude do oceano, que se perderia naquela vastidão profunda
E ao perder-se, achou-se na sua pequenez e na sua singularidade.

E só assim, consciente de sua condição de grão flutuante no mar da vida,
A alma, que se pensara à deriva, viu felicidade
No simples flutuar da existência.

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