Dia do Referendo II

Consumada a vitória do "não" no Referendo, percebo que o resultado demonstra, acima de tudo, a vitória do direito privado sobre o coletivo. Preocupados com a possibilidade de terem subtraído um direito seu, os adeptos do "não" não levaram em consideração o direito à vida sob uma perspectiva coletiva. É uma reação egocêntrica, que não enxerga o bem comum acima do interesse pessoal. Trata-se de uma inversão da lógica que compartilho: o raciocínio deles é que o bem comum deve estar condicionado à conveniência pessoal, ou seja, o bem comum precisa ser, antes de tudo, "o meu bem".
Não é exatamente uma vitória dos que defendem as armas como garantia de segurança. É uma resposta à provocação da campanha do "não", segundo a qual o cidadão brasileiro perderia seu direito de legítima defesa - e ninguém gosta de perder nada, certo? Puro sofisma, pura enganação, mesmo que indeliberada. Armas não salvam ninguém, apenas perpetuam a lei da selva. O que sustenta a idéia de que armas defendem a vida é a preconceituosa segregação que divide a sociedade entre os "cidadãos de bem" e os bandidos, como se a vida de um valesse mais do que a de outro. A morte de um criminoso, no entanto, é tão lamentável quanto a de um "cidadão de bem". Afinal, num mundo realmente civilizado, nenhuma transgressão à lei poderia facultar alguém o direito de matar o infrator, mesmo que esse não se importe em liquidar quem se oponha à sua ação criminosa.
Pra resumir: ao restringir o direito ao uso de armas, o sim no Referendo nos distinguiria dos criminosos. A vitória do "não", no entanto, dá-nos o direito de sermos iguais a eles - habilitados a matar.

Comentários

Danielle Garcia disse…
Bem, Luiz

Estava ontem pensando justamente isso, essa decisão extremamente egoísta do NÃO. Quando votei sim, pensei justamente no coletivo, no futuro melhor, mais humano, menos violento e mais amoroso para os nossos filhos. Proibir as armas agora, não seria, é claro, um desarmamento imediato, mas gradativo e importante para o futuro. Mas, tristemente, a sociedade ainda é egoista, vive no olho por olho, dente por dente. Penso, contudo, que minha, ou melhor, nossa decisão não foi em vão. Nos tornamos cada vez mais conscientes de que as nossas vidas valem muito. Que, como principiantes espíritas, devemos defender a vida de todos, independente de suas escolhas pessoais, suas ações e seus objetivos. Para cada ação, uma reação virá naturalmente...

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