Drama de Jornalista

Um dos meus maiores dramas enquanto jornalista é o de exercer espírito crítico sem ser antifraterno. Observo como alguns colegas de profissão não fazem cerimônia ao descer a ripa - alguns como tática de projeção pessoal, outros para desafogar a consciência indignada. Ou ainda, por ambos os motivos combinados. Outro dia, escrevia um texto sobre o suposto e provável envolvimento do vereador piçarrense João Bento Moraes (PMDB) num esquema de desmanche de carros. Comentava sua entrevista ao Jornal do Comércio, na qual ele rogava inocência e desmentia acusações. Eu desmontava a tese do vereador, algo fundamentado no conhecimento pessoal de sua trajetória política e profissional. Hesitei, porém, declarar que ele mentia, porque, embora as evidências assim indicassem, mesmo uma remotíssima possibilidade de que ele falava a verdade poderia me tornar terrivelmente injusto.
O dilema está aí: entre o zelo ético de não criminalizar ninguém e o dever profissional de informar contextualmente. Sei que pode parecer simples, que a questão resolver-se-ia com uma simples e direta abordagem objetiva do assunto. Mas a rotina profissional nos mostra que restringir-se às verdades apuráveis, isentas da subjetividade do jornalista, não nos aproxima necessariamente da realidade dos fatos. Por outro lado, ser crítico pode resultar na artificialização de verdades.
Aqui o desafio: saber dosar até quanto de mim é necessário para entender o mundo; e identificar quando minha subjetividade passa a deformar a realidade que vemos.

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