Les Enfants

Choro e desilusão. O Brasil pranteia o sonho trucidado pelo passe elegante e genial de Zidane. O gol que fuzilou a fantasia brasileira foi uma síntese do jogo: um Roberto Carlos assistindo ao cruzamento incompreensivelmente distante do artilheiro Henry, que chutou sem dó. Feliz a minha mãe, que, sem os desvarios de torcedora, pressentiu o que a maioria se recusava a enxergar. E com os olhos de uma brasileira imune à comoção infantil, divertiu-se com a aposta na França. E foi recompensada por sua sabedoria. Faturou o bolão do bairro, promovido pelo posto de gasolina.
Não, minha mãe não é descendente de franceses nem traidora da pátria. Só uma mulher que assistiu à correria dos 22 homens como uma brincadeira de gente grande. Para ela, a vitória ou derrota dos jogadores canarinhos era apenas a simples lógica de um jogo. Uma equipe ganha, outra perde. Para uma mulher que já chorou por tantas dores, derramar pranto pelo gol francês soa ridículo. É nunca ter tido motivos mais pungentes para chorar. É não achar na vida alegrias mais reais para celebrar. Ela mereceu ter ganhado os 150 reais. Depois do Felipão, minha mãe é hoje a brasileira mais feliz do mundo.

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